terça-feira, 4 de dezembro de 2012

AO GENERAL TORRES DE MELO

AO GENERAL TORRES DE MELO
Sérgio de Vasconcellos.
MM. DD. General Torres de Melo.

Sou profundo admirador do seu relevante trabalho em prol da Pátria, que venho acompanhando, inclusive recebendo diretamente no meu e-mail os seus esclarecedores “Documentos”.

No início de 2012, o Sr. brindou-nos com uma brilhantíssima resposta à jornalista Miriam Leitão, que ganhou imensa repercussão no mundo virtual sendo reproduzida em várias dezenas de blogs e recebendo inumeráveis elogios, o que certamente deve ter deixado à caterva comunista bastante perplexa. Pretendi já naquela época tecer umas breves observações ao seu magnífico escrito, mas, não o fiz e, agora, serenada a merecidíssima reverberação de seu Artigo, resolvi publicar as considerações que o mesmo me suscitou sobre a presença Militar na História Nacional (1).

O Sr. na sua excepcional resposta à citada jornalista nos dá a impressão de que os Militares tiveram um papel secundário na Vida Nacional, indo a reboque das maquinações civis, o que não posso concordar. De forma alguma podemos amesquinhar a participação das Forças Armadas na História Pátria.

De fato, foi a atuação do Duque de Caxias e de outros Militares de igual envergadura intelectual e moral que impediram que o separatismo lacerasse o corpo da Pátria. Hoje, que as mesmas forças centrífugas se fazem sentir, também estipendiadas pelo mesmo Capitalismo Financeiro Internacional que financiou as revoltas separatistas ao tempo do Império, pergunto: Terá o Brasil Soldados da fibra de Caxias, Amazonas, Herval, Tamandaré para sustentar a integridade nacional? O Sr. como Militar está em condições de responder esta dúvida que, posso adiantar, está longe de ser unicamente minha.

Querer reduzir o papel do Proclamador da República e de seu Consolidador ao de indivíduos “envolvidos” por “políticos” é querer passar atestado de burrice em Deodoro e Floriano. A Proclamação da República foi um Movimento Militar em que o Povo Brasileiro e a maioria dos Políticos não tiveram qualquer participação, salvo por um pequeno grupo de republicanos, que se aproveitou da situação para derrubar a Monarquia, pois, quando Deodoro rebelou suas tropas seu objetivo era apenas a deposição do Gabinete Ouro Preto. Estando este e demais Ministros literalmente presos no Campo de Santana, o Imperador então convoca Silveira Martins, conhecido pelo seu rigor, para compor um novo Gabinete, e somente aí o General Deodoro ultrapassa a linha da insubordinação e trai o Império que jurara defender. Foi a primeira, porém, não a última intervenção Militar na Política. A segunda foi a deposição do próprio Deodoro pelo seu Vice, o General Floriano Peixoto... Portanto, General, a malsinada Proclamação da República está muito longe de ser um exemplo de respeito à Lei e à Ordem.

A Política dos Governadores? Ora, é o fruto sazonado da quartelada de 15 de Novembro de 1889 e manteve-se à sombra das baionetas enquanto durou a República Velha, inclusive, prestando-se a eleição fraudada do Marechal Hermes para a Presidência da República. Onde estavam os Militares de brio que impugnassem tal roubalheira e garantissem a verdade das urnas, nas quais fora eleito Rui Barbosa? Omitiram-se, permitindo mais esse desrespeito à Lei e à Ordem. E como foram tratados os Militares que se rebelaram na defesa da Lei e da Ordem, por exemplo, na Revolta da Armada, na Revolução Federalista, na Revolta da Chibata? Tiveram o apoio do restante do Exército e da Marinha? Sabemos que não, pelo contrário, num belo exemplo de como compreendiam o que era o respeito à Lei e à Ordem: Ficaram ao lado do GOVERNO, ajudando que este rasgasse a Lei e impusesse a Ordem que bem entendia a Nação atônita. O Tenentismo jamais foi aceito pela cúpula militar da década de 20, e só não é tratado com a mesma forma desairosa que outros Militares que se levantaram em épocas anteriores, simplesmente porque muitos deles participaram da vitoriosa Revolução de 30, não fosse isto e seriam mencionados com desdém e vergonha pelos Militares de Ontem e de Hoje. E o levante dos 18 do Forte? E a Revolta do Izidoro, em que se chegou a bombardear a Cidade de São Paulo? Quem estava com a Lei e Ordem? Os Militares revoltosos ou os Militares situacionistas? De qualquer maneira que se opine não se pode negar que se tratava de intervenção militar na Política Nacional.

Onde estavam os corajosos Militares defensores da Lei e da Ordem quando Civis e Militares insurrectos fizeram um tranquilo passeio do Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro e derrubaram o Presidente Washington Luís e impediram a posse do recém-eleito Júlio Prestes? O grupo Militar que se revoltou não deu a mínima a Lei e a Ordem e o restante ADERIU, traindo a Lei e a Ordem que sustentara até a véspera. Instala-se um Governo Discricionário, que nomeia Interventores para todos os Estados – menos para Minas Gerais – e tal estado anômalo perdura até que Paulistas – Civis e Militares – levantam-se em defesa da Lei e da Ordem! É a Revolução Constitucionalista! Sim, o Brasil estava sem Constituição! Onde os Militares que segundo o Sr. sempre sustentaram a Lei e a Ordem que nada fizeram para exigir do Getúlio e dos demais Políticos que tomaram posse do Palácio do Catete o retorno à Democracia? O Estado de São Paulo sofreu, mas, deu um exemplo de civismo, e se perdeu no plano militar, porque o Exército e a Marinha da época pareciam achar muito natural que em pleno século XX o Brasil não tivesse Constituição e que a Ordem fosse determinada por um Governo Discricionário, ficaram leais – pelo menos dessa vez – ao grupo que açambarcara o Poder em 1930, repito, se perdeu no plano militar, a Revolução Constitucionalista ganhou no Político, porque Vargas percebeu que era necessário voltar ao Estado de Direito e convocou uma Assembleia Nacional Constituinte. Por acaso, fizeram alguma coisa os Militares defensores da Lei e da Ordem quando Getúlio pactuou com o Congresso em 1934, num autêntico golpe, pelo qual os Constituintes passaram a condição de Senadores e Deputados Federais, elegendo-o então indiretamente Presidente da República? Nem um tirozinho, General? Que raio de defensores da Lei e da Ordem são estes, General? Só os Integralistas alertaram para as consequências funestas de tal Golpe Parlamentar. Fato semelhante já ocorrera no início da República, quando o mesmo tipo de barganha fez o General Deodoro da Fonseca para se perpetuar no Poder e o resultado final não foi bom a começar pelo próprio Deodoro que foi defenestrado pelo Floriano. Mas, segundo o Sr. eles eram apenas dois ingênuos enrolados pelos Políticos...

E a Revolução de 1935? Que fiasco a atuação dos Militares! Sobre este episódio tenho já tenho um Artigo,  "O Integralismo e a Revolução Comunista de 1935", cuja leitura recomendo.

Chegamos aqui ao ápice da defesa da Lei e da Ordem pelos Militares de Ontem, o Estado Novo! Que exemplo edificante para os Militares de Hoje... As “velhas raposas” encasteladas no Catete em cumplicidade com a cúpula Militar do Ministério da Guerra resolvem não permitir que ocorram as eleições de Janeiro de 1938, afinal, vai que o tal Plínio Salgado se eleja e ponha fim à farra... Então um General carreirista, cujo nome não mencionarei por razões de higiene, rouba descaradamente do então Capitão Mourão Filho um documento reservado da Ação Integralista Brasileira E O APRESENTA À NAÇÃO COMO UM PLANO COMUNISTA QUE FORA DESCOBERTO PELO EXÉRCITO!!! Sim, General Melo, este era o nível moral e intelectual de muitos Militares de Ontem. Infelizmente! Com esta falsa justificativa, com TOTAL APOIO dos Ministros Militares se instalou o Estado totalitário no Brasil! Evidentemente, nem todos os Militares eram desta mesma tibieza moral e, então, começou a conspiração que redundaria na malograda Revolução de 11 de Maio de 1938. Esta, sim, uma iniciativa que visava defender a Lei e a Ordem por Brasileiros Militares e Civis (entre os quais, nós, Integralistas), restaurando o Estado de Direito, o retorno à Constituição de 1934, a convocação de eleições livres, a anistia política, etc. Mas, de que lado ficaram as Forças Armadas? Da Lei e da Ordem, isto é, da Constituição de 1934 ou do totalitarismo estadonovista? É fato, ficaram com Estado Novo e contra a Lei e a Ordem!!! Em 1945, o General Dutra manda o Getúlio ir veranear em Itu e com imerecida aura de herói da 2ª Guerra elege-se Presidente da República. Só fico na dúvida quando o Dutra e os Militares que o apoiavam defenderam a Lei e a Ordem, se quando depuseram Vargas ou quando garantiram a eleição do Dutra pelos velhos e conhecidos manejos da fraude eleitoral?

Não abordarei sua simplista visão da Guerra Fria, escaparia a finalidade desta. Quem sabe noutra oportunidade.

Sei... O Inquérito do Galeão não era da alçada militar... De fato, o Getúlio da década de 50 estava mal cercado, mas, não apenas por civis...

Quanto ao Movimento que redundou na Revolução de 1964, ele se inicia entre CIVIS com total e completa omissão dos Militares, salvo pelas honrosas exceções de praxe, com as Marchas da Família. Havia uma opinião pública favorável à deposição de Jango, mas, os Militares até 30 de Março eram janguistas, digo, defensores da Lei e da Ordem... Então, um Militar de verdade, cansado da lassidão das FFAA, sai de Juiz de Fora e marcha para o Rio de Janeiro e dá início a Redentora, e, então, vieram as ADESÕES de outras unidades Militares, começando pela mais importante, o 1º Exército. Registre-se o nome do Militar, autêntico Patriota, e não um reles carreirista fardado: General Olympio Mourão Filho. MAS, infelizmente, SEMPRE HÁ UM “MAS”, a Revolução de 31 de Março de 1964, uma autêntica contrarrevolução, cuja finalidade era garantir a Lei e a Ordem, preservando a Democracia, o Estado de Direito, que os comunistas em breve destruiriam com a implantação de um Estado totalitário bolchevista, acabou por atentar exatamente contra a Lei e a Ordem, fechando o Congresso, mandando as urtigas a Constituição de 1946, abolindo os Partidos Políticos, fazendo cassações inúmeras, convocando uma nova Constituinte, que redigiu a Carta de 1967, reformulada discricionariamente pelos Militares em 1969, enfim, todo um cortejo de medidas que tiveram como consequência final, o Brasil que temos hoje! Ah! Esqueci que para o Sr. a culpa é sempre dos Civis... Os Militares continuam ingênuos como Deodoro e Floriano...

Os Militares são democratas? Foram democratas quando derrubaram o Gabinete Ouro Preto? Foram democratas quando mandaram o Deodoro para a Casa? Foram democratas quando permitiram a derrubada do Presidente Washington Luiz? Foram democratas quando não tugiram nem mugiram durante dois anos de Governo Discricionário do Sr. Vargas? Foram democratas quando sustentaram durante oito anos o totalitário Estado Novo? Foram democratas quando fecharam os Partidos e praticaram todo tipo de excesso durante o Regime Militar ao arrepio das mais comezinhas noções de Lei e de Ordem? E dizer que “Os militares não irão às ruas sem o Povo ao seu lado” é uma afirmação democrática e respeitadora da Lei e da Ordem? Se o Povo estiver autenticamente insatisfeito com o atual estado de coisas no Brasil, então que se manifeste através dos meios legais, ordeiros e democráticos existentes. Que os militares tratem de se preparar para a Guerra caso o Brasil seja atacado e deixem ao Povo a responsabilidade da condução da Vida Política Nacional.

Finalizando, General Torres de Melo, creio ter demonstrado com fatos inquestionáveis da História do Brasil, que sua “tese” não se sustenta. Desde 15 de Novembro de 1889, os Militares do Brasil têm violado constantemente a Lei e a Ordem, pois, tendo usurpado o Poder Moderador do Imperador estão condenados a interferir constantemente na Política e sempre que o fazem é um desastre! Por favor, continuem em seus quartéis!

Pelo Bem do Brasil!

Anauê!

NOTA DO BLOG:
1) Segundo fui informado por um Militar, a resposta do General Torres de Melo à jornalista Miriam Leitão, não seria do início de 2012 e, sim, de 12 de Março de 2008, e que por sua vez seria uma resposta ao Artigo "Enquanto Isso", datado de 18 de Setembro de 2005. De qualquer forma, só tomei conhecimento da Carta do General Francisco Batista Torres de Melo em Fevereiro de 2012.

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